quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

REFLEXÃO PARA O NATAL DO SENHOR - Jefferson Monsani


VAMOS A BELÉM!

Creio que a mesma afirmação dirigida à noite em que Cristo ressuscitou dos mortos – noite mais clara que o dia – pode, perfeitamente, ser aplicada a esta santa noite, cujos resplendores iluminam a terra inteira, fazendo-a despertar do torpor que a mantinha inerte, vazia, sem vida. Tal luminosidade nunca vista, oriunda do estábulo de Belém, clarifica o caminho do homem errante, perdido por vias calcadas sobre sua auto-suficiência, sujeito aos riscos advindos de suas preferências, posto que, não raras vezes, tais escolhas estão assaz distantes do plano salvador de Deus. De fato, a luz que emana do Salvador reclinado na manjedoura desvela o olhar do ser humano, fazendo-o descobrir o quão bela é sua existência quando orientada por Deus e para Ele.

Com efeito, retomando a colocação antes feita, é possível correlacionar a noite de Natal com aquela do “primeiro dia da semana” (Jo. 20, 1), uma vez que parecem tão belas e singulares, únicas nos acontecimentos que lhes assaltam. Na primeira – cujas alegrias, hoje, tomam conta de nossa alma –, em singelo estábulo, já que “não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc. 2, 7) , nasce o Verbo de Deus, o Príncipe da paz segundo a profecia de Isaías (Is. 9, 5), longe, portanto, de toda riqueza ou aparato meramente humanos. O Filho de Deus se faz homem, precisamente, para recriar a humanidade corrompida pelo desenfreado desejo de dominar a tudo. Ele, “que nem os céus podem conter”, toma carne da carne de Maria Santíssima e se faz homem para renovar o homem, mesmo se sua fragilidade pareça loucura aos soberbos sonhos do ser humano em relação ao seu Salvador. Já na segunda, três dias após o escândalo da Cruz – trono oferecido ao genuíno Rei do Universo - mais uma vez brilha a luz de Deus sobre as pretensiosas maquinações do homem, gritando aos quatro cantos do mundo que a última palavra é a do seu Amor, que recria e renova todas as coisas. Desse modo, esta profunda palavra da literatura apocalíptica parece brotar dos lábios do Cristo em ambas noites, ou seja, em Belém e em Jerusalém: “Eis que faço novas todas as coisas!” (Ap. 21, 5).

O Natal do Senhor que hoje celebramos, pascal em sua essência, é a festa da restauração do homem, da iluminação do mundo, da revitalização das forças do ser humano para todo o sempre. Todavia, passados dois milênios do nascimento de Deus na fragilidade da carne, pode-se perceber a humanidade caminhando desorientada em busca de uma luz, esquecida de que, conforme profetizara Isaías, brilhou uma luz para o povo que caminhava nas trevas. Destarte, nesse dia, o desejo mais segreto e profundo de nosso coração é de que a Luz, ou seja, Cristo, brilhe sobre a humanidade que caminha na escuridão do pecado, na penumbra da falta de fé, no cansaço da falta de esperança e na falta inaceitável de caridade. O Verbo encarnado, reclinado na austera manjedoura, é o maior sinal do grande amor com o qual o Pai nos ama; é o próprio Céu a nos dizer que Deus não desistiu de sua criação, isto é, que Ele, em seu Filho feito carne, espera e acredita em nós, não obstante a frágil argila da qual somos feitos.

O Natal do Salvador, bem distante da festa puramente consumista por muitos celebrada, é momento propício de profunda reflexão e decidida conversão que a santa Igreja nos proporciona, jamais nos esquecendo dos dois belos exemplos de vivência dessa espiritualidade natalina oriundos das Escrituras: Maria Santíssima e seu esposo José, o homem justo. Creio que a pronta disponibilidade da Virgem à voz do arcanjo Gabriel, quando lhe fora anunciada sua divina maternidade e pedido seu assentimento, bem como o bom coração de São José, sua posição íntegra ao perceber grávida sua noiva, são posturas que precisam ser por nós assumidas. Se a sociedade pós-moderna grita ferozmente sua mentalidade relativista, seu exacerbado individualismo e sua firme resolução de banir o Deus da Vida de seu meio, Maria e seu casto esposo nos ensinam o valor da fé confiante Naquele que a tudo transcende e vivifica e a necessidade da caridade e do coração aberto ao irmão mais carente; nos dizem, com seu existir, a beleza da simplicidade e da humildade, do perdão e da reconciliação, da fraternidade e da verdadeira alegria que devem animar o coração do homem nesta ocasião em que o Céu desce a nós para nos elevar. Só consegue amar o menino deitado no presépio e perceber o misterioso e inenarrável segredo Nele encerrado aquele que trilhar o caminho de Maria e de José, posto que estas coisas são veladas aos sábios e entendidos e reveladas aos pequeninos (cf. Mt. 11, 25). A maravilhosa luz que emana do Cristo recém-nascido não pode iluminar, portanto, aqueles que preferem confiar somente em si mesmos, que se decidiram por sua própria justiça, que se fecharam em um mundo escuro e vazio, muito embora repleto de bens.

Vamos a Belém!, é o convite que a sagrada Liturgia desta noite nos oferece, irresistível àqueles que são bem aventurados: os pobres em espírito, os aflitos, os mansos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os que promovem a paz, os perseguidos, insultados e caluniados (cf. Mt. 5, 1-11), porque Aquele que nasceu é o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim, a fonte de água viva (Ap. 21, 6), a luz verdadeira, aquela que ilumina todo homem (Jo. 1, 9). Essa Luz verdadeira, mais intensa do que o sol e mais brilhante do que a dos astros que cortam a penumbra dos céus em noites escuras, não pode ser extinguida pela poder das trevas (cf. Jo. 1, 5), conforme assevera o apóstolo João, e esta sua eternidade é o motivo de nossa esperança. Felizes os olhos que, por Ele iluminados, conseguirem enxergar para além de sua fragilidade e perceberem Nele a Salvação por Deus prometida, preparada diante de todos os povos (cf. Lc. 2 30-31) e felizes os corações que conseguirem sentir a santa alegria que invadiu o espírito de Maria, de José, dos pastores e dos magos ao contemplarem o Rei dos Céus revestido de nossa carne, perto de nós, de nossas dores e sofrimentos, de nossos medos e inquietações, de nossa fragilidade e finitude. O Natal, dessa maneira, é a festa da iniciativa de Deus, que não se contentando em estar perto de nós, quis ser um de nós, quis armar sua tenda entre nós (cf. Jo. 1, 14) e divinizar, em si mesmo, a humanidade dos seus. Ele aguarda, também, a nossa iniciativa.

Vamos a Belém e vamos confiantes, pois sob a frágil aparência de criança nós encontramos o Messias e Nele a razão de nossa existência e a luz para nossos caminhos!

Jeff Monsani
25 de dezembro de 2007

2 comentários:

Anônimo disse...

Monsani!!! Esse texto ficou muito legal, bonito e muito bem escrito além de trazer, também, uma reflexão bastante interessante!
Entre a MANJEDOURA do menino Deus e a CRUZ do Cristo Jesus existe um abismo de amor! Esse abismo deve ser experimentado por todo SER HUMANO!!!!!!
Meus parabéns por esse belo texto.

Leandro Luís disse...

Olá meu querido confrade em Jesus Redentor! Quão maravilhado estou por ter tido a honra de ler estes magníficos textos de vossa ilustríssima autoria. Sinto-me feliz ao perceber que andais fertilizando o solo de vosso coração com as mais belas palavras de espiritualidade. Continue firme e, quando sair seu livro quero participar de tamanho acontecimento. Vós estais muito bem. Perceverança é o que deseja seu amigo querido. Leandro Luís!